São Cristóvão
Primogênito de um rei caldeu, Relicto despertava a
admiração de conhecidos e de estranhos por sua postura e delicadeza.
Assemelhava-se ao ideal grego de beleza masculina plasmado em carne e osso.
Feições graciosas, proporção de linhas harmonia natural. Seus olhos
adolescentes contemplavam as embarcações ancoradas no porto de Sidon com
expressão sonhadora. Não tinha outra paixão na vida além de chegar a servir ao
rei mais poderoso do mundo. Mas era preciso saber quem era ele antes de se pôr
a seu serviço.
Gordiano, imperador romano,
teve Relicto a seu serviço. Guerreiro famoso temido, Relicto passou a obedecer
a Safã, cujo poder fazia o imperador empalidecer.
Depois nosso santo
descobriu que acima de Safã estava o poder da cruz, ante a qual fogem todos os
demônios. Coerente com seu plano de só obedecer ao mais poderoso dos reis,
Relicto de fez cristão.
Certo dia, perguntou a
um eremita como podia servir ao Crucificado. O religioso lhe propôs o jejum
como caminho de purificação.
-Não vê o tamanho do
meu Corpo? Preciso comer mais do que os outros para me manter, retrucou
Relicto, um tanto perplexo.
-Serve-o, então , com
tua estatura e tua força. Ajuda os peregrinos necessitados a vadearem a
torrente, foi o que lhe sugeriu o ancião.
Durante muito tempo, o
corpulento Relicto cumpriu fielmente essa indicação. A correnteza do rio nada
significava para ele. Um dia, porém, quase morreu afogado ao transportar nas
costas um menino solitário. Seu peso era imensurável. Já na margem aposta,
Relicto lhe perguntou por que pesava tanto. -Não te admires. Cristóvão, de que,
sendo eu tão menino, te haja esgotado com meu peso. É que o mundo inteiro se
apóia sobre mim. Foste e continuarás sendo aqueles que carrega Cristo,
respondeu-lhe o Infante.Com efeito, desde esse momento, a comunidade cristã do
Oriente pô-se a se apoiar em uma coluna que o temor e o desalento não poderão
destruir: o gigante espiritual, cuja memória hoje a exaltamos e que todos
conhecemos pelo nome Cristóvão.
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