quinta-feira, 14 de julho de 2016

SANTAS RUFINA E SEGUNDA - 10 de Julho


SANTAS RUFINA E SEGUNDA
Virgens e Mártires
+ Roma, 252.

Na Via Aurélia, a nove milhas de Roma, as santas Rufina e Segunda, mártires.

Rufina e Segunda foram duas irmãs que enfrentaram o martírio para defender sua pureza. A atual sepultura delas é no Batistério Lateranense, em Roma. O Papa Júlio I (341-353) construiu uma basílica, depois restaurada pelo Papa Adriano I (772-795), enquanto o Papa Leão IV (847-855), a enriqueceu com presentes. A partir do século V, por causa do grande número de peregrinos, toda a região do “Lorium” (a vila imperial que incluía a Basílica das duas mártires) e, portanto, Sylva Candida (nome do bosque por causa das Santas), foi erigida a Sé Episcopal: “episcopus Silvae Candidae” (em 501) e depois, “episcopus Sanctae Rufinae”. No tempo do Papa Calisto II (1119-1124), a diocese estava unida com a de Porto e foi chamada suburbicária de Porto e Rufina Santa. No século XII, por causa da destruição da cidade por parte dos bárbaros, Papa Anastácio IV (1153-1154) fez mover seus corpos (1120) para a Basílica de Latrão, onde são guardadas até hoje no Batistério de São Constantino, no altar do átrio esquerdo, do lado oposto ao do ss. Cipriano e Justina. O Papa Anastásio IV mandou fazer, em 1253, altares em honra delas (“Roma antica e moderna”, Volume 2, 1765, p. 408), na casa onde a Tradição afirma ter sido a casa das duas Santas em vida e que hoje é o Mosteiro e Igreja das Ss. Rufina e Segunda, em Roma. Os altares foram restaurados por Papa Clemente VIII, junto com a igreja. Na Idade Média, foi erigida uma igreja em honra delas no bairro de Trastevere, a Roma, sobre o local onde, segundo a tradição, havia a casa de Astério, o pai delas. Em 1600, o Capítulo de Santa Maria in Trastevere concedeu a casa a algumas estrangeiras que restauraram a igreja e fizeram uma cômoda habitação na qual vivem, hoje, religiosamente, sem votos e sem clausura, umas oblatas Ursulinas. Sobre seu túmulo foi erigido um pequeno oratório que, no século IV foi demolido pelo Papa Damaso, que mandou erigir uma grande igreja. A antiga basílica da Via Cornelia está em ruínas e ainda não se é capaz de identificar com precisão os restos.
De um Martirológio italiano de 1467, uma Vita das Santas Mártires que vale a pena ler, por ser inspiradora!

VIDA DAS SANTAS RUFINA E SEGUNDA, VIRGENS E MÁRTIRES

A vida das Santas Rufina e Segunda, Virgens e mártires, tirada de um livro antigo escrito a mão, com o qual estão de acordo muitos autores de Martirológios e a narra o Frei Lorenzo Surio.

Aos 10 de Julho.

Tratando Jesus Cristo Nosso Senhor com seus Apóstolos sobre as perseguições que tanto eles quanto os outros fiéis deviam padecer por amor de Seu nome, lhes disse: “Virá o tempo que o irmão procurará a morte do irmão, o pai dos filhos, e os filhos do próprio pai”. Disto temos exemplo em duas Santas Irmãs, Rufina e Segunda, as quais pelo nome de Jesus Cristo foram perseguidas e espancadas até a morte, não pelo pai ou os irmãos, mas pelos próprios esposos [na verdade, eram noivos] os quais costumam ser aqueles que mais acariciam e se mostram amorosos com suas esposas. A vida destas Santas, tirada de um livro antigo escrito a mão com os quais se acordam diversos Martirológios, sobre esta.
Rufina e Segunda, irmãs, foram donzelas ilustres e nasceram em Roma. O Pai delas se chamava Asterio e a mãe Aurélia. Ocorre que, na perseguição de Valeriano e Galieno Imperadores, eram martirizados muitos Cristãos em Roma, aonde Armentário e Verino, que iriam se tornar esposos de duas irmãs, renegaram por medo das torturas, e passaram para o lado dos gentios. E, não contentando-se da perda de suas próprias almas, procuraram persuadir ao mesmo as servas de Deus. As santas donzelas, para fugir a esta injustiça que pairava sobre elas, recolheram suas roupas e as puseram sobre carros e tomaram o caminho da Toscana, onde o pai delas tinha algumas propriedades.
Quando os esposos compreenderam isso, falaram com o Conde Agesilao, e lhe disseram: “Faça justiça e defenda a honra dos deuses imortais, porque te informamos que nossas esposas [noivas] Rufina e Segunda, por indignidade delas e vergonha nossa, nos rejeitaram e foram em direção da Toscana para poder lá mais livremente servir e adorar Jesus Cristo, o qual elas confessam por verdadeiro Deus”.
Quando Agesilao ouviu isso, tomou gente armada em sua companhia e se pôs a segui-las; e as alcança na Via Flaminia, quatorze milhas distante de Roma. As fez voltar à Cidade e as entregou em mão de Iunio Donato, prefeito, e lhe disse: “Estas sacrílegas donzelas, desprezando a ordem de nossos Imperadores, deixaram de adorar os deuses imortais para adorar um Homem crucificado, e haviam deixado Roma contra a vontade dos esposos delas. A mim, por ofício meu, me cabe trazê-las de volta à Cidade, e a ti, agora, cabe fazer o resto”.
Iunio as mandou colocar na prisão, separadas uma da outra. No terceiro dia, falou secretamente com Rufina e lhe disse: “Sendo tu nascida nobre, como te puseste em tanta baixeza que tu julgas ser melhor estar na prisão que ser livre e desfrutar com o teu marido”.
Rufina respondeu: “Este cárcere e estes liames terão fim e serão meio de livrar-me da prisão que nunca terá fim”.
“Oras, deixe - disse o prefeito - estas vãs imaginações e sacrifica aos deuses e poderás aproveitar o teu esposo e estar com ele muito anos”.
Respondeu a Santa: “Tu te gastas a me persuadir [a fazer] duas coisas inúteis, e me promete outra duvidosa e incerta. Primeiro, tu quererias que eu sacrificasse aos deuses, o que, se eu fizer, estou certa que perderei a alma: tu quererias depois que eu aproveitasse meu esposo carnalmente, e disso resultaria que eu perderei a virgindade, a glória, e coroa particular, que se dá às Virgens. Tu me prometes, depois, que eu estarei com ele até ficar velha, o que é coisa duvidosa e incerta porque tu não sabes, e eu não sei, se seremos vivos amanhã de manhã”.
O prefeito disse: “Cessarão as palavras quando se chegar aos fatos”, e mandou que Segunda fosse trazida até ele, para que, vendo torturar a irmã, por medo que algo semelhante não acontecesse a ela, fizesse sacrifícios aos deuses. Assim que Segunda chegou, Rufina foi despida e começaram a açoitá-la cruelmente.
Quando Segunda viu tal coisa, disse ao Prefeito com voz irada: “O que é isso, homem perverso, inimigo do reino do céu? Por que motivo faz digna de glória minha irmã e me priva a mim? Se tu a fazes torturar por ela ser cristã, e porque não quer sacrificar aos deuses, eu ainda sou cristã e tenho ânimo de não fazer sacrifícios a teus falsos deuses; se tu pensas que eu sou mais débil e não possa suportar as pancadas como ela, tu estás em erro, porque, quando me faltassem as forças, o meu Senhor Jesus Cristo m'as daria, conforme o desejo que eu tenho de padecer por Ele, que é muito grande. Se, então, eu estou nos mesmos termos nos quais está minha irmã, porque me faz tão manifesta injustiça, fazendo merecedoras ela e privando-me a mim?”.
O Prefeito respondeu: “Tudo o que tu dizes é verdade, que em todas as coisas és igual à tua irmã quanto a merecer ser torturada e castigada como ela, contudo tu a superas em ser mais insana ainda que ela, que as duas são insanas”.
“Minha irmã e eu não somos insanas, disse Segunda, mas somos ambas Cristãs. Se, então, tu a torturas por isso, eu não quero que tu me prives de suas torturas, porque isso é coisa certa [a fazer], que, quanto maiores forem as torturas que o Cristão padecer por amor de Cristo, tanto maior e preciosa será a sua coroa no Céu”.
Disse o Prefeito: “Se tu queres que te tenha por sensata e perspicaz, rogue a tua irmã que deixe sua obstinação, e ambas adorai nossos deuses e desposai vossos esposos”.
Agesilao, que as havia capturado, disse: “Não é mais possível que elas possam se casar, porque o sacrilégio que cometeram em desprezo de nossos deuses as faz indignas de poder-se casar”.
Respondeu a Santa vigem Segunda: “Tu nos tem por indignas de ter marido por sermos cristãs, como se nós o desejássemos: pode acreditar verdadeiramente Agesilao que nós somos do mesmo parecer de ser Virgens como de ser cristãs; porque sendo tais seremos mais amadas por Jesus Cristo, e nos fará favores particulares em Sua celeste Corte”.
Disse, então, o Prefeito: “Que faria, pois, se vós perdesses a virgindade contra a vossa vontade? Como se portaria o vosso Cristo convosco em tal coisa?”.
Respondeu Segunda: “Quando nos fosse feito força, Jesus Cristo nos daria prêmio particular por ter suportado este agravo: de modo que faça o que te agrada, forçamento, violência, acoites, bastões, pedras, espadas, fogo e quais quer outros instrumentos que tu saiba imaginar para nos torturar, serão ocasião em que nós adquiriremos mais glória”.
O Juiz mandou colocar ambas em uma prisão escura, e mandou fazer muito fumo, fazendo queimar estrume e esterco; o qual, havendo enchido a prisão onde estavam as Santas, não apenas não fediam ou enojavam o olfato, mas o deleitavam e parecia que fosse odor de musgo e âmbar. Além disso, a grande escuridão daquele lugar desapareceu, tendo vindo grande esplendor do Céu. O Prefeito as mandou tirar daquela prisão e a mandou colocar ambas em uma grande caldeira cheia de óleo, depois mandou acende por baixo o fogo, o qual ardeu por duas horas seguidas, até que o óleo foi todo consumado, e as Santas permaneceram sempre dentro, sem lesão alguma. Foi avisado disso o Prefeito, do qual ele se maravilhou não pouco; contudo, tornando-se cada vez mais cruel, mandou tirar as Santas da caldeira e levá-las ao Tibre, onde mandou pendurar nelas uma grande pedra no pescoço e jogá-las dentro. As Santas donzelas caminharam quase meia hora por sobre as águas, sem afundar, e, ao final, as ondas do rio as conduziram à margem e seus panos estavam secos, como se não tivessem tocado a água. Foi feito um relato disso ao Prefeito, o qual muito mais maravilhado do que antes disse ao Conde Agesilao: “Aquelas duas donzelas que tu me trouxestes ou são bruxas e encantadoras, ou são muito santas. Tu m'as entregastes em mãos, eu t'as devolvo. Condena-as tu à morte, ou livrá-las, como mais de apetecer”.
Agesilao as mandou levar fora de Roma, em um bosque, que era uma propriedade chamada “Busso” [ou “Dusso”], e lá mandou cortar-lhes a cabeça, às duas, e ordenou que os corpos delas fossem devorados pelas feras.
Era dona daquela propriedade onde estava o bosque uma Matrona Romana chamada Plautilla, a qual viu em sonho as duas santas Mártires vestidas de riquíssimas vestes e coroadas de joias e pérolas de grandíssimo valor, e estavam sentadas sobre duas cadeiras, como se tivesse se casado, e diziam à matrona Plautilla: “tire já de sua alma os falsos deuses e não os adore, mas creia em Cristo, para que tu receba dEle o prêmio que nós possuímos. E se quiseres saber quem nós somos, vá até a tua propriedade onde encontrarás os nossos corpos, e te rogamos que lhes dê sepultura”. Foi Plautilla imediatamente à sua propriedade, onde encontrou os corpos das Santas Virgens sem mau cheiro ou lesão alguma, a não ser a que o carnífice fez quando lhes cortou a cabeça. Plautilla adorou a Deus e se converteu à Fé, e mandou construir um sepulcro às Santas Virgens naquele mesmo lugar, onde permaneceram alguns anos.
Após algum tempo, os corpos delas foram levados à Cidade, na Igreja Constantiniana, e sepultados próximos da pia de Batismo. A Igreja celebra a festa destas Santas no dia do martírio delas, que foi em 10 de julho do ano do Senhor 252, imperando Valeriano e Galieno.
“Il Perfetto Leggendario della Vita e dei Fatti di Nosso Signore Gesù Cristo e di Tutti i Santi...”, de Alfonso Vigliega di Toledo, traduzido para o italiano pelo monge camaldonense Timoteo da Bagno, 1467, pp. 391-393. Tradução para o Português: Giulia d’Amore.

Sobre elas, ainda:
http://tradizione.oodegr.com/tradizione_index/vitesanti/ruffina.htm (italiano)
http://farfalline.blogspot.com.br/2014/07/10-de-julho-santas-rufina-e-segunda.html

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